Pouco mais de quatro meses após o ataque ocorrido em duas
escolas no município de Aracruz, autoridades, agentes de segurança pública e
comunidade se reuniram, na noite de quarta-feira (29), em uma audiência pública
da Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente. O encontro proposto pelo
presidente do colegiado, deputado Alcântaro Filho (Republicanos), foi realizado
no auditório da Oficina de Artes, no Bairro Coqueiral de Aracruz, localizada a
poucos metros dos colégios onde ocorreram os crimes.
“Nós não queremos que tudo isso que aconteceu aqui seja
apagado de nossas memórias e principalmente da memória de nossos gestores. O
poder público falhou, tanto a polícia quanto qualquer outro ente do governo do
Estado ou do município não estava preparado para tudo aquilo que aconteceu aqui
no bairro de Coqueiral. Mas cabe a partir desse momento nós fazermos essa
reflexão e lutarmos até o fim de forma conjunta para que nós tenhamos medidas
concretas”, afirmou o parlamentar.
“Se estamos aqui é porque assumimos publicamente esse
compromisso de que teremos resposta. Que a Flávia, a Cibele, a Penha, essas
professoras, juntas da aluna Celena, que todas as vítimas que sobreviveram,
graças a Deus, que toda a comunidade que sofreu o que sofreu, não passem por
isso por acaso. Em memória a essas pessoas, em respeito a essas pessoas, nós
vamos lutar até o final para que tenhamos escolas sem violência”, complementou
Alcântaro.
O deputado também destacou sua visita ao município de Suzano (SP), onde no dia
13 de março de 2019 dois assassinos abriram fogo em uma escola, culminando com
a morte de dez pessoas (incluindo os atiradores). O presidente do colegiado
explicou a importância de conhecer a realidade de outras cidades afetadas por
tragédias dessa natureza para entender como elas reagiram.
“Nós temos nos últimos 20 anos no Brasil, 16 atentados em escolas. Só no último
ano nós tivemos sete ataques no Brasil, com três episódios, infelizmente, com
vítimas fatais. (...) Eu fiz questão de ir ao local, primeiro para conhecer a
realidade de uma cidade que vivenciou isso há um pouco mais de tempo que a
gente. E segundo porque Suzano ganhou inclusive prêmios com o seu programa de
prevenção à violência”, argumentou.
Ações do governo
O secretário de Estado de Segurança Pública, coronel
Ramalho, destacou em sua fala as medidas adotadas pelo Executivo para prevenir
esse tipo de ocorrência. O gestor falou sobre a criação de um Comitê Integrado
de Gestão Escolar, de colaboração interdisciplinar, com o objetivo de preparar
não só as forças de segurança estaduais e municipais para agirem em momentos de
crise, mas também toda a comunidade escolar do Espírito Santo. “O que a
segurança pública está fazendo é buscar esse conhecimento, é buscar cada vez
mais estar próxima da sociedade”, explicou o secretário.
“Nós temos que estudar juntos, aprender juntos, para que a
gente possa fazer a devida prevenção nas escolas. Esse é um tema novo no
Brasil. (...) Porque a primeira pergunta de um fato que leva à comoção social
na segurança pública é: cadê a polícia? O que a polícia vai fazer? Então nós
precisamos estar juntos para pensar o que a polícia vai fazer”, opinou.
Emoção
Em uma fala emocionada, Juliana Pessoti fez todo auditório a
aplaudir de pé por um longo período. A mãe da estudante Thaís Pessoti, que
sobreviveu ao atentado e somente nesta semana voltou para casa, falou como foi
e ainda está sendo difícil enfrentar essa nova realidade. A professora falou
com orgulho de como a filha vem avançando no tratamento e enfrentando os
desafios.
“Foi um momento muito difícil e está sendo muito difícil. Voltar para casa é
como se a gente ainda estivesse vendo um filme. A Thaís tem consciência do que
aconteceu com ela. Ela não fala porque a bala atingiu a parte do cérebro
responsável pela compreensão e pela fala. Ela tem tido muita garra e muita
força para superar todos esses obstáculos. A Thaís ainda tem muitas etapas para
conquistar. Mas o meu coração de mãe diz que a gente só não quer viver isso de
novo. A gente como pai e mãe, a gente tem que olhar para os nossos filhos, a
gente tem que conversar, tem que falar sobre tudo e cumprir o nosso papel”,
enfatizou.
Relembre o caso
Na manhã de 25 de novembro de 2022 um adolescente de 16 anos
invadiu duas escolas, uma pública e uma particular, no município de Aracruz. O
invasor estava armado e abriu fogo contra alunos e servidores das instituições.
Quatro pessoas morreram, entre elas uma estudante de 12 anos e outras 12
pessoas ficaram feridas.