Não é segredo que muitos homens ainda buscam manter uma imagem de força e invulnerabilidade. Essa questão, tão presente no dia a dia masculino, pode impactar negativamente diversas áreas da vida, sendo a saúde uma das que mais sente esses reflexos.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, os homens brasileiros vivem, em média, 7 anos a menos do que as mulheres. "Isso ocorre porque, em nossa sociedade, os homens são ensinados a ser autossuficientes, resistentes e a não demonstrar fraqueza. Tudo isso gera relutância em buscar ajuda médica ou admitir problemas de saúde", afirma o Dr. Rodolfo Bandeira, urologista do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim".
Além disso, como agravante, esse público conta ainda com maior exposição a comportamentos de risco, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, dieta inadequada e falta de atividade física, fatores que potencializam o risco de enfermidades no decorrer da vida.
Levantamento realizado pelo Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo mostra que 70% dos homens que procuram um consultório médico o fazem influenciados por suas parceiras ou filhos. E é nesse cenário que doenças crônicas, como o câncer, passam a ser uma ameaça cada vez mais real, uma vez que a falta de acompanhamento médico regular pode dificultar o diagnóstico e tratamento precoces.
Dentre os diferentes tipos, o câncer de próstata é o segundo mais comum nos homens brasileiros e reforça a necessidade de superação dos tabus que envolvem a saúde masculina.
"O câncer de próstata é considerado um dos mais
frequente em homens, principalmente após os 50 anos, correspondendo a
aproximadamente 29% de todos os cânceres diagnosticados. No total, estima-se
que 1 em cada 9 homens será diagnosticado com câncer de próstata durante a
vida", explica o especialista.
A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga que envolve a uretra, o
canal que liga a bexiga ao orifício externo do pênis. Para diagnóstico do
tumor, além do exame de PSA, que mede a quantidade de uma proteína produzida
pela próstata no sangue, é necessário a realização do famoso "exame de
toque", que muitos homens temem.
"Existe a crença que, de alguma forma, o exame de toque pode ferir a masculinidade, mas o fato é que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Esse sentimento muitas vezes é até inconsciente, mas precisa ser trabalhado. Este é um exame como qualquer outro e deve fazer parte da rotina de cuidados do homem", ressalta o médico.
Dr. Rodolfo destaca ainda que a próstata não é responsável
pela ereção nem pelo orgasmo masculino, o que muitas vezes confunde os homens e
colabora para a falta de interesse em buscar apoio especializado nesse sentido.
Sintomas como dificuldade para urinar, sangue na urina, diminuição do jato de
urina e a necessidade de urinar mais frequentemente podem indicar alterações no
organismo. Geralmente, esse tipo de câncer cresce e se desenvolve de forma
lenta e, em alguns casos, pode nem sequer apresentar sinais. Portanto, é de
extrema importância que os homens estejam cientes e procurem ajuda médica ao
menor sinal de preocupação.
"A mudança de paradigmas é o alicerce para a construção
de uma cultura preventiva na população masculina. Os homens devem ser
incentivados a realizar exames regulares, adotar um estilo de vida saudável e
buscar ajuda médica sempre que necessário. É crucial que trabalhemos para que
eles compreendam desde cedo que não há problema em admitir vulnerabilidades. A
educação, a conscientização e o apoio social desempenham um papel fundamental
na busca por essa transformação, não apenas na saúde", reitera o urologista.
Somada às visitas regulares aos consultórios, hábitos como manter uma
alimentação saudável, praticar atividades físicas e evitar o consumo de bebidas
alcoólicas e cigarros podem desempenhar um papel fundamental na promoção da
saúde masculina. Essas medidas preventivas não apenas reduzem o risco de
doenças, mas também contribuem para uma melhor qualidade de vida de forma
geral.