O Governo Federal lançou, nessa terça-feira (20), uma cartilha com orientações, especialmente aos médicos veterinários, para identificação de Varíola dos Macacos (Monkeypox) em animais. A cartilha, intitulada “Monkeypox para Animais”, foi elaborada por pesquisadores da Rede Vírus, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com o apoio do Ministério da Saúde, do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP) e da Sociedade Brasileira de Virologia.
De acordo com a professora Helena Lage, pesquisadora e coordenadora do projeto, a iniciativa surgiu após a primeira confirmação de infecção de animal doméstico por Monkeypox, no Brasil, registrada no final de agosto. “Foi identificado um cachorro filhote positivo que estava em contato com seu tutor positivo”, relembrou, durante a apresentação da cartilha. Segundo a especialista, o enfoque do documento é “mitigar e controlar a infecção de animais domésticos por pessoas positivas” (ao vírus).
As orientações apresentadas no documento vão da maneira correta de higienização das mãos após manusear animais silvestres e domésticos, precauções ao ser mordido ou arranhado, e como isolar animais com suspeita do vírus; à lista de laboratórios preparados para receber material para diagnóstico, prevenção e notificação de casos suspeitos ao sistema de saúde local.
Lage explica que a cartilha será um importante direcionador, a fim de evitar a contaminação e proliferação do vírus em uma escala maior, uma vez que “a maioria dos animais não vão apresentar lesões cutâneas ou sinais evidentes”.
Também durante o lançamento, Odemilson Donizete Mossero, presidente do CRMV-SP, afirmou compromisso em distribuir o material aos quase 150 mil médicos veterinários com registro em território nacional. “Temos condições e vamos fazer toda a divulgação através das nossas mídias, através dos nossos meios de comunicação, para que a classe médica veterinária esteja em posse desse material rico. É importante para que a população, os nossos animais e a saúde pública, de um modo geral, seja cada vez mais bem atendida”, disse Mossero.
Vale destacar que, na última segunda-feira (19/09), o Ministério da Saúde confirmou que o primeiro lote com 50 mil vacinas contra a Varíola dos Macacos para humanos deve chegar ao país ainda em setembro. Embora ainda não haja definição do grupo prioritário a ser imunizado nesta primeira etapa da campanha de vacinação, tudo indica que ocorrerá de forma gradativa. “A Organização Mundial de Saúde orienta que (a imunização) não seja feita em massa”, informou um interlocutor da pasta, ao portal Brasil 61. Atualmente, são registrados 6.649 casos e 2 mortes pelo vírus Monkeypox no país.
Animais hospedeiros
A médica veterinária Alessandra Fonseca, assessora técnica do CRMV-SP, explica que a lista de animais domésticos e selvagens suscetíveis à Varíola dos Macacos pode ser extensa, embora haja apenas um registro desse tipo de infecção no Brasil (canina), até o momento.
“A gente ainda não sabe todos os hospedeiros que ele (vírus) pode ter e nem todos os animais que podem se contaminar com ele. O que nós sabemos é que outros vírus que pertencem ao gênero Orthopoxvirus podem, sim, contatar vários outros animais, inclusive cães, gatos, animais selvagens, primatas não-humanos e até aves e répteis”, alerta especialista.
Helena Lage destaca que é importante que tutores se isolem dos animais ao apresentarem sinais de infecção, para protegê-los. Ao detectar sinais no animal, a recomendação é levar ao veterinário para a coleta de amostra, como manda a cartilha. “A gente recomenda coleta de amostra para diagnóstico e descarte correto dos resíduos sólidos para evitar contaminação ambiental”, disse a coordenadora.
Cuidados sanitários são suficientes
Ainda durante o lançamento da cartilha, o presidente do CRMV-SP, Odemilson Mossero, fez questão de destacar que, apesar do nome “Varíola dos Macacos” sugerir que os animais são reservatórios para o vírus (ou seja, um habitat para que o agente infeccioso cresça e se multiplique), os bichos são apenas hospedeiros, assim como os humanos. “Eles recebem a doença como um ser humano recebe. É importante que todos trabalhemos temas como esse”, enfatizou.
Para a veterinária Alessandra Fonseca, o registro do vírus em animais domésticos acendeu um novo alerta de cuidado com relação aos bichos, e é importante conscientizar a população de que a solução está nas medidas sanitárias e cuidados necessários, e não em eutanásia. “A orientação é que, na suspeita de que o animal esteja com o vírus, ao manejar esse animal, sejam utilizadas luvas… Deixar esse animal um pouco isolado, não dormir na mesma cama que o animal, né? (...) Mas isso não é o caso de fazer eutanasia dos animais”, pontuou.