Com o propósito de colher sugestões para o Projeto de Lei nº 806/2023, que tramita na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), sobre coibição do racismo nos estádios de futebol, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) organizou, na terça-feira (8), uma reunião pública com diversas personalidades e entidades interessadas para debater o combate às ofensas raciais que ocorrem em jogos de futebol.
Participaram do evento integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), clubes de futebol estaduais, Juizado do Torcedor, Movimento Negro, entre outros.
O Projeto de Lei ainda está em fase de receber emendas para aperfeiçoá-lo. Assim, o debate promovido pelo MPPE resultou em ideias como paralisar a partida caso se identifiquem ofensas racistas de torcedores ou jogadores, perda de mando de campo para o time da torcida ofensora, reverter as multas que o clube sofrerá para fundos de combate ao racismo, determinar que o agressor frequente palestras sobre o crime de racismo e o mal social que ele proporciona, batizar a lei derivada do projeto como Nilson Correia, em lembrança ao ex-goleiro Nilson que atuou em clubes pernambucanos e foi vítima de ataques racistas durante jogos, etc.
O MPPE assumiu o compromisso de compilar todas as propostas e enviá-las à ALEPE para apreciação e possíveis acréscimos ao Projeto de Lei.
O Procurador-Geral de Justiça, Marcos Carvalho, declarou ser oportuna a discussão realizada pelo MPPE. “Trata-se de um crime que se repete com frequência. Debatê-lo para encontrar medidas efetivas de coibi-lo é uma contribuição que o MPPE dá à sociedade, assim como mais legitimidade ao Projeto de Lei, que ganha propostas vindas de diversas vozes interessadas no tema”, avaliou ele.
“O MPPE tem a atribuição constitucional de defender a
sociedade. Como esse Projeto de Lei ainda se encontra com prazo de modificações
e aprimoramentos, organizamos a reunião pública para que a sociedade colabore
com ele”, comentou a Coordenadora do GT Racismo do MPPE, Ivana Botelho. “A
intenção é que o Projeto de Lei fique ainda mais fortalecido para o
enfrentamento ao racismo nos estádios. Convocamos setores da sociedade, de
dentro e fora do esporte, para que deem ideias sobre sanções para punição e
inibição do racismo dentro das arenas esportivas”, acrescentou o Coordenador do
Núcleo do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (NPHAC) do MPPE, José da Costa
Soares.
Dentre os convidados, os ex-jogadores Nilson Correia e Zé do Carmo deram seus
depoimentos de como sofreram com o racismo dentro do futebol e como foi
marcante ter convivido com as violências, que eram constantes e vinham de
vários locais.
“É de suma importância que o PL prossiga e ganhe emendas mais severas de enfrentamento ao racismo. Quem passou na pele as agressões não as esquece. Elas vêm dos torcedores, dos próprios atletas em campo. Sempre ouvi xingamentos referentes ao ser negro, nem que fosse um grito isolado saído das arquibancadas”, afirmou Zé do Carmo.
“Sofri racismo violento vindo das arquibancadas, feito com o intuito de me humilhar para me desestabilizar por atuar como goleiro”, lembrou Nilson. “O combate ao racismo trata-se de uma luta diária e não descansaremos. Possivelmente, não presenciaremos o extermínio completo do racismo, mas devemos entregar avanços para as próximas gerações, que seguirão no combate”, complementou ele.
O Vice-Presidente da Federação Pernambucana de Futebol
(FPF), Paulo Wanderley, relatou que o racismo, no século 21, não cabe mais no
futebol: “A Confederação Brasileira de Futebol, as federações estaduais e os
tribunais desportivos têm se posicionado duramente contra as ofensas
discriminatórias que ocorrem nos estádios”, pontuou ele. O representante do
Movimento Negro Unificado de Pernambuco, Alessandro Silva, salientou que o
racismo ocorre também contra torcedores: “O Estado é o maior praticante de
racismo. O Estado faz abordagens violentas contra torcedores. E como se vai
puni-lo?”
Integrantes da Comissão de Direitos Humanos da ALEPE elogiaram a ação do MPPE
para aperfeiçoar o PL. A Deputada Estadual Dani Portela, Presidente da
Comissão, defendeu que além de punições, o caráter educativo é importante:
“Conscientizar as pessoas de que é um crime e de que não pode ser cometido
porque fere seres humanos é transformar a sociedade e dar caráter permanente ao
enfrentamento”, apostou ela. A Deputada Estadual Rosa Amorim inseriu outros
grupos alvos de ofensas em estádios: “A LGBTfobia e o machismo também se fazem
presentes nos estádios. O PL pode ser incrementado para combater essas
discriminações”, disse. O Deputado Estadual Joel da Harpa, autor do PL em
tramitação, se mostrou aberto a incluir emendas: “É ótimo ouvir a sociedade e,
com as sugestões, ampliar a minha ideia, já que o objetivo de todos aqui é
inibir esse crime que ocorre de forma sistêmica, não somente em Pernambuco e no
Brasil, mas no mundo”, revelou ele.