"A influência humana nas mudanças climáticas é inequívoca, induzindo significativas alterações no clima e causando mudanças observadas em extremos climáticos, como ondas de calor, forte precipitação, secas e tempestades." A observação é do professor Neyval Costa Reis Júnior, do Núcleo de Estudos da Qualidade do Ar (NQualiAr) e do Instituto de Estudos Climáticos (IEC) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O palestrante do Conexões Sustentáveis – Agenda 2030 em Debate, promovido pela Escola do Legislativo, falou sobre o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 - Ação contra a Mudança Global do Clima. Causas, efeitos e as soluções que vêm sendo pesquisadas e implantadas referentes ao tema foram pontos abordados pelo pesquisador.
O professor considerou que “não estamos prontos para enfrentar [eventos climáticos extremos], mesmo sendo previsíveis". Também apontou que a influência humana nas mudanças climáticas passou a ter maior relevância a partir do Século XVIII, com a Revolução Industrial.
Círculo vicioso
O professor Neyval Júnior ilustrou que a exploração do subsolo, com a extração de petróleo, aumentou em escala exponencial a emissão de gás carbônico na atmosfera terrestre e que a emissão de poluentes nos níveis atuais causa o desequilíbrio e o superaquecimento da Terra.
A alta concentração do gás carbônico, conforme explicou,
provoca o enfraquecimento da camada de ozônio, responsável pela proteção contra
a radioatividade solar. Originalmente, há gás carbônico na atmosfera na medida
necessária para a entrada dos raios solares e para evitar o esfriamento da
terra. Entretanto, com o aumento desse gás na atmosfera, a Terra fica
desprotegida, vulnerável diante dos raios infravermelhos, causando o
superaquecimento global.
A água da chuva, com o aquecimento, evapora com maior rapidez e satura as
nuvens. Estas, sobrecarregadas, se precipitam em maior quantidade em menor
espaço de tempo, provocando enchentes, formando um círculo vicioso. O
resultado é o aumento dos desastres naturais.
Emissões
Conforme apresentado pelo palestrante, no Espírito Santo a produção de
energia responde pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa na
atmosfera (32%), enquanto no Brasil, o setor corresponde a 18% das emissões. O
processo industrial capixaba contribui com 31% das emissões de gases poluentes,
já a média nacional nesse quesito é de 5%.
A agropecuária espírito-santense é responsável por 18% das emissões de poluentes, enquanto no âmbito nacional o setor corresponde a 27%. A poluição produzida pelos resíduos sólidos chega a 7% no estado; no país, correponde a 4%. O uso da terra e das florestas no Espírito Santo produz 12% de poluentes na atmosfera, enquanto essa mesma ação em nível nacional chega a 46%, principalmente pelo desmatamento e produção de bovinos.
Soluções
O professor comentou que as tarefas inadiáveis e urgentes para frear os
efeitos da crise climática são de responsabilidade dos poderes públicos, dos
setores da economia, da sociedade organizada e de cada um dos cidadãos.
Neyval Júnior elencou, entre as medidas transformadoras
necessárias, a produção de energia limpa (elétrica, hidrelétrica, eólica) no
lugar de energia fóssil; fabricação do chamado aço verde, sem emissão de
carbono; a produção do hidrogênio verde, a partir da energia eólica, com a
eletrólise da água; gestão de resíduos; fim do desmatamento e incentivo à
compensação florestal;construção de edificações sustentáveis; mudanças nos
hábitos de mobilidade urbana, com ênfase no transporte público movido a energia
limpa.
O professor da Ufes ainda apresentou o Plano de Descarbonização e
Neutralização das Emissões de Gases de Efeito Estufa do Espírito Santo, que
envolve governo, especialistas, academia, sociedade e todo o setor produtivo
capixaba. Ele assegurou que todos os entes envolvidos estão empenhados no
trabalho coletivo para apresentar soluções com objetivo de minimizar as
emissões e aumentar a eficiência dos equipamentos, entre outras medidas.